A Casa


Olho para aquela casa antiga,
Agora pintada de amarelo e branco,
Agora com portões na entrada da vila,
E não mais reconheço a criança que em mim dormia
Ali vivida e esquecida,
Que outrora regozijava o coração
E agora nostalgicamente o apequena
Diante de lembranças tão singelas
E de um presente de insensibilidades.
E fico parado olhando aquela casa,
Esperando minha vó sair gritando meu nome
Porque o almoço já está pronto,
E então eu paro a brincadeira
E volto correndo para o colo dela
Pra ela me levar pra dentro com carinho,
E sentir de novo aquele gosto de bife-à-milanesa
E depois dormir, e brincar de marceneiro
No sótão, e fingir dirigir o carro de madeira
Que meu avô fez pra mim.
E aí voltar para a rua pra ficar brincando
E ficar com medo da vizinha chata
Fazendo travessuras só pra irritá-la,
E ficar longe da casa mal-assombrada
Inventando estórias de fantasmas,
Vendo fantasmas, fugindo de fantasmas,
E passar o fim de tarde na calçada
Cumprimentando os passantes
Com minha vó me fazendo cafuné
Ouvindo causos de cabelos brancos
Até dar a hora da minha mãe chegar
E me trazer de volta pra onde estou
E me fazer concluir que aquela casa
Tão antiga e tão presente, tão amarela e branca
É um monumento há muito tempo erigido,
Ao ilustre desconhecido passado de minha vida.

julho/2005 – Rio de Janeiro

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